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Entrevista com Ivam Ricardo Peleias: perspectivas e desafios no mercado de perícias contábeis para 2024 Nesta edição da Newsletter APEJESP, tivemos o privilégio de entrevistar Ivam Ricardo Peleias, sócio Proprietário na IRPE - Perícia e Consultoria Contábil Ltda. Nesta entrevista, Peleias compartilhou sua visão sobre o mercado de perícias para 2024, destacou as principais mudanças que impactaram o setor em 2023 e discutiu o futuro da profissão de perito. Além disso, ele abordou o papel da tecnologia na área de perícia contábil e como as inovações estão moldando o trabalho dos profissionais.

Newsletter APEJESP: Como o senhor avalia o mercado de perícias para 2024?

Ivam Ricardo Peleias:
O mercado de perícias é promissor e, a meu ver, continuará sendo. Podemos atuar no Poder Judiciário, em Arbitragens, como servidores públicos concursados, como empregados/sócios em empresas de serviços e nas relações entre particulares. No Judiciário e nas Arbitragens, podemos atuar antes da nomeação por Juízes e Tribunais Arbitrais, elaborando laudos, pareceres e notas técnicas a pedido das Partes, para subsidiar o processo decisório de ingressar ou não com a ação/arbitragem e/ou instruir as ações e arbitragens.

Podemos ser nomeados por Juízes e Tribunais Arbitrais, ou sermos indicados por consenso entre as Partes. Além da atuação como pessoa física e/ou empresa de serviços, há os quadros de Peritos da Polícia Federal, das Polícias Cíveis Estaduais e o corpo de analistas periciais do Ministério Público Federal. As empresas de serviços podem ser de serviços contábeis, multiprofissionais (por exemplo, de consultoria) ou as firmas de auditoria, muitas das quais mantêm áreas/divisões de Forensic services.

O crescimento das arbitragens, aliado à criação de mais varas empresariais, cíveis, de fazenda pública e de família e sucessões no Estado de São Paulo expande o campo de trabalho. A atuação como Parecerista e Testemunha Técnica é uma possibilidade real para prestarmos nossos bons serviços. O aumento das audiências no Poder Judiciário (evento processual comum nas arbitragens) demanda maior preparo na comunicação oral.

Outra possibilidade prevista no Código de Processo Civil e em crescimento é a nomeação de empresas especializadas em perícias. Home office desde sempre foi a opção escolhida por parcela significativa de profissionais da Perícia. Ter escritório e/ou empresa é uma opção real para nós. As possibilidades são muitas, por isso a avaliação e escolha dos campos de atuação no mercado perícias é uma decisão estratégica para Peritos e Peritas.

APEJESP: Quais as principais mudanças que impactaram em 2023 o mercado de perícias na área que o senhor atua?

IRP: No caso de nosso escritório, o maior volume de nomeações nas Varas Empresariais e nas de Fazenda Pública da Capital, da Região Metropolitana e do Interior do Estado de São Paulo respondeu por grande parte do volume de trabalho no Poder Judiciário. Temos sido consultados e/ou contratados como Assistentes Técnicos em casos maiores e mais complexos, no Poder Judiciário e Procedimentos Arbitrais, que nos têm exigido mais, do ponto de vista intelectual, de atualização profissional, de treinamento e expansão da equipe e de volume de trabalho. Outra mudança que notamos e tem nos gerado trabalhos interessantes são perícias contábeis em operações financeiras, para identificar e apurar excessos porventura cometidos em operações financeiras de naturezas variadas. O volume de arbitragens internacionais tem crescido e, na sua esteira, a demanda por Peritos e Peritas para atuarem neste segmento. Aqui, além do domínio de dois ou mais idiomas, é preciso conhecer a legislação, as práticas negociais e os ritos processuais dessas arbitragens.

APEJESP: Como vê o futuro da profissão?

IRP: O futuro é promissor, pois atuamos em um mercado desde sempre promissor. Peço licença para falar de três vertentes.
A 1ª, em relação às opções e ao volume de trabalho. Há um estoque de processos no Poder Judiciário Federal e Estadual que demandará a produção de provas técnicas robustas e de qualidade. Peritos, Assistentes Técnicos, Pareceristas e Testemunhas Técnicas poderão atuar nesses processos. Perícias prévias, laudos, pareceres e notas técnicas poderão ser elaborados para a instrução processual. O crescimento no volume de contratos com cláusula compromissória abre a possibilidade de que os litígios nessas transações sejam resolvidos em câmaras arbitrais, que não raro demandam trabalhos periciais. O volume de perícias nas relações extrajudiciais, seja para servir de subsídio a decisão de entrar ou não com ações/arbitragens, seja para instruir essas ações/arbitragens, tem crescido de forma significativa. Uma opção ainda incipiente; porém, com grandes perspectivas, é a possibilidade de Peritos e Peritos participarem dos Tribunais Arbitrais. Uma boa estratégia processual tem dois grandes pilares: a defesa jurídica e a defesa técnica. A junção dessas defesas bem realizadas certamente faz a diferença quanto ao resultado esperado da ação ou da arbitragem.

A 2ª é a atuação destacada das entidades congraçadas da profissão contábil no Estado de São Paulo (APEJESP, CRCSP, SindCont-SP e APC, em especial) nas ações formação de quadros, atualização e educação continuada. Peritos e Peritas paulistas e de outros estados têm participado ativamente das atividades presenciais e online. Lembro que um divisor de águas dessas ações foi uma reunião havida no 1º semestre de 2018 na sala da plenária do CRCSP. A partir daquela reunião, criou-se e foi implementado um calendário de atividades que ganhou corpo e hoje atende, com qualidade, agilidade e grande audiência, a parcela da classe dedicada à atividade pericial. Pelo que observo e converso com nossos e nossas pares, servimos de exemplo e inspiração para outros estados deste Brasil. Atrevo-me a dizer que exportamos parte de nossa tecnologia educacional e de formação pericial para outras regiões deste nosso Brasil.

A 3ª é em relação ao desenvolvimento técnico-científico da perícia. Sou Professor Pesquisador dos Mestrados da Fecap. Oriento dissertações, público artigos sobre perícia contábil como autor e coautor, participo de bancas de mestrado e doutorado para avaliar pesquisas sobre perícia contábil, sou convidado a avaliar artigos sobre perícia contábil submetidos a congressos e/ou revistas científicas nacionais e internacionais. A quantidade e a qualidade dos artigos vêm crescendo, atendendo a parte das demandas que a sociedade impõe ao campo profissional e científico da Perícia. A partir de 2024, será oferecida a disciplina Tópicos Avançados de Perícia Contábil no Mestrado Acadêmico em Ciências Contábeis da Fecap. É uma ação pioneira no Estado de São Paulo, porque até o momento disciplina semelhante é oferecida apenas no Mestrado em Ciências Contábeis da Unioeste, no Paraná. Parte da construção da disciplina na Fecap considera a experiência na Unioeste, aliada à nossa vivência acadêmica-científica e atuação profissional. Na Fecap, a ênfase da disciplina será no desenvolvimento e aplicação prática de outros campos do conhecimento, de forma interdisciplinar e integrada, bem como no conjunto de habilidades e competências que Peritos e Peritas devem possuir para cada vez mais e melhor desenvolverem suas funções. Mestrandos, Mestrandas e Egressos dos Mestrados da Fecap, além dos que cursam Mestrado e Doutorado em outros programas de pós-graduação, são e serão sempre muito bem-vindos. É um desafio instigante e motivador, que certamente trará relevantes contribuições para nosso campo de atuação e para a sociedade brasileira.

APEJESP: De que forma a tecnologia vem impactando a perícia?

IRP: A tecnologia desde sempre impactou a perícia. Somos contadores que nos utilizamos dos sistemas das organizações, em seus vários aspectos. Os processos digitais no Judiciário e nas arbitragens agilizam nosso trabalho e nos permitem administrar e manusear grandes volumes de dados, informações e documentos com rapidez e eficiência cada vez maior. O uso disseminado dos sistemas integrados (ERP – Enterprise Resources Planning, já caminhando para a 3ª geração) permite extrair e obter informações contábeis e de módulos auxiliares (financeiros, operacionais, de produção, dentre outros) com rapidez e segurança.
As planilhas eletrônicas e bancos de dados permitem o tratamento, extração de dados e a geração de relatórios com qualidade e boa apresentação. As videochamadas nos poupam precioso tempo de deslocamento. Os sistemas, aplicativos e ferramentas de inteligência artificial aplicada, tais como processadores de texto para redação, edição, correção e tradução, dentre outras atividades de caráter operacional, permitem a padronização de parcela substancial do trabalho.
As trocas de arquivos por links, para acesso em repositórios digitais, agilizam a entrega dos elementos que solicitamos e, por consequência, o tempo consumido em nossos escritórios. No geral, o que até aqui descrevi, desde que usado de forma diligente, nos oferece ganho precioso de tempo, que pode ser aplicado na nossa educação continuada (indispensável, a meu ver, para os que atuam na função pericial, pois o Perito é aquele que sabe e, quando não sabe, precisa saber como saber) e para cuidarmos melhor de nós e de nossos entes queridos, pois somos seres humanos.

Ressalto e lembro que o uso da tecnologia, em suas mais variadas possibilidades e em seus mais avançados estágios, desde sempre esteve e continua subordinado à resolução das questões que enfrentamos no exercício da função pericial e à busca permanente por uma vida de melhor qualidade, para nós e para a sociedade. A única tecnologia que permanece atual desde sempre e nunca será ultrapassada é a que está em nossas mentes e corações. A tecnologia desde sempre desenvolvida, aplicada e disseminada hoje com uma velocidade espantosa é fruto da ação combinada de nossas mentes e corações. No mais, continuemos a trabalhar para darmos conta das nossas crescentes encomendas.


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